quarta-feira, 28 de maio de 2008

Maria Madalena






















Maria Madalena é certamente uma das personagens mais simpáticas, mas também mais misteriosas do Evangelho, devido ao seu relacionamento com o Senhor e por ter sido a primeira testemunha da Ressurreição de Jesus. Dela, o comum dos cristãos apenas sabe que foi uma prostituta e que se arrependeu. Os pregadores têm repetido à saciedade, comovidos, que Jesus "de uma pecadora fez a discípula predileta, de uma mulher da vida, fez uma apóstola". Mas, segundo os Evangelhos, a sua grandeza foi ser testemunha privilegiada do Senhor vivo, após aquela morte horrenda. Poder-se-ia perguntar: Porque motivo se terá feito desta primeira testemunha da Ressurreição uma pecadora? Daqui surge, naturalmente, a primeira questão: Quem é Maria Madalena?


Todas as dificuldades que vamos encontrar para responder a esta pergunta decorrem do fato de os Evangelhos não serem "História de Jesus", mas ensino acerca de Jesus. Não podemos, pois, encontrar neles uma biografia de Maria Madalena. Procuremos, antes de mais, a mensagem teológica, o sentido, que se encontra por detrás dos textos, onde brilha o rosto desta personagem extraordinária.

Uma primeira constatação: Maria Madalena é a mulher mais presente no Novo Testamento. 
O seu nome aparece aí nada menos de doze vezes e significa "de Magdala (Magdalena = Madalena)". Pode parecer chocante; mas Maria, a Mãe de Jesus - se excluirmos os Evangelhos da infância (Mt 1-2; Lc 1-2) - é muito menos referida do que Maria Madalena e, por vezes, de maneira pouco honrosa: fala-se da "Mãe de Jesus", mas só em Marcos 6,3 se diz o seu nome. A explicação reside no fato de os evangelistas darem importância à relação discípulo-Mestre e não às relações de sangue, que perdem valor na dinâmica do Reino. A importância de Maria Madalena deve-se ainda ao fato de ela aparecer como uma das personagens fundamentais do cristianismo, de tal modo que o seu nome e a sua personalidade deram origem a um evangelho apócrifo, ou seja, não reconhecido como canônico pela Igreja - o "Evangelho de Maria"; mas ela aparece noutros livros apócrifos cristãos como o "Evangelho de Tomé", o "Evangelho de Filipe", "Pistis Sophia", etc.

Este fato pode ter contribuído para que a Igreja oficial tendesse a rebaixar certas mulheres e Maria Madalena em particular. A sua fama entrou na devoção dos cristãos ao longo de todos os séculos a ponto de ser considerada uma das fundadoras da Igreja nascente. Deste modo, tomou-se um tema necessário na pregação, na espiritualidade, na literatura, na escultura e na pintura, e até no cinema, ao longo de vinte séculos de cristianismo; e foi escolhida para padroeira dos que "se dedicavam às vaidades", ou seja, dos que faziam perfumes e cosméticos, bem como dos cabeleireiros e fabricantes de luvas. Mas foi igualmente considerada padroeira e protetora das prostitutas, tendo sido fundada uma Ordem Religiosa, a das Madalenas, no séc. XIII.

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