Essa mulher, a doce melancolia dos seus ombros, canta. O rumor da sua voz entra-me pelo sono, é muito antigo. Traz o cheiro acidulado da minha infância chapinhada ao sol. O corpo leve quase de vidro.
Vozes da esquerda, surdas, e vozes da direita, afinadíssimas, hão de louvar-te a arte de ser mulher: mansa como uma ovelha, jeitosa como uma gata de luxo, dócil e generosa como uma árvore a se multiplicar em sombra e frutos, como uma estátua impassível, hábil de acordo com as conveniências, e acima disso crente em ser esse o teu ideal de vida... Acorda: pois foi essa a sorte que escolheste?
A brisa e a luz cantarão nos teus cabelos. A luz que acende a cor: a saudade no sol nas dunas do teu corpo. A brisa sobre as águas: o fogo no sangue, os árdegos cavalos que a manhã dispara. A tarde do fauno: a doçura da pele sob o tremor dos dedos. À noite a luz crescente sonha o amor nas tuas areias.