quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Essa mulher, a doce melancolia






















Essa mulher, a doce melancolia
dos seus ombros, canta.
O rumor
da sua voz entra-me pelo sono,
é muito antigo.
Traz o cheiro acidulado
da minha infância chapinhada ao sol.
O corpo leve quase de vidro.

Eugenio de Andrade
In O peso da sombra

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

8ª Cantiga de acordar mulher

















Vozes da esquerda, surdas,
e vozes da direita, afinadíssimas,
hão de louvar-te a arte
de ser mulher:
mansa como uma ovelha,
jeitosa como uma gata de luxo,
dócil e generosa como uma árvore
a se multiplicar em sombra e frutos,
como uma estátua impassível,
hábil de acordo com as conveniências,
e acima disso
crente em ser esse o teu ideal de vida...
Acorda: pois foi essa
a sorte que escolheste?

Geir Campos

Mulher



























A brisa e a luz cantarão nos teus cabelos.
A luz que acende a cor:
a saudade no sol nas dunas do teu corpo.
A brisa sobre as águas: o fogo no sangue,
os árdegos cavalos que a manhã dispara.
A tarde do fauno:
a doçura da pele sob o tremor dos dedos.
À noite a luz crescente
sonha o amor nas tuas areias.

H.Dobal